As Forças Armadas Angolanas estão preparadas para cumprir qualquer eventual incursão militar estrangeira que possa surgir no país, afirmou na localidade do Kinkankala, município do Ambriz, província do Bengo, o Chefe do Estado-Maior General das FAA, Egídio de Sousa Santos “Disciplina”. Guerra à vista ou só encenação… para uso interno?
O oficial superior general da FAA que falava no encerramento do exercício e manobra operativo estratégico “Vale do Loge”, iniciado em Junho deste ano, considerou positivo tudo quanto foi traçado e materializado as orientações das estruturas superiores.
O evento, visou fundamentalmente exercitar os comandos do Estado-Maior da Região Militar, Aérea e Naval, norte e Forças Especiais nas questões relacionadas com a prontidão combativa e o planeamento operativo-estratégico, no âmbito de operação defensiva e o reforço da defesa dos objectivos estratégicos contra agressão e acção subversivas.
Apesar das limitações financeiras do país, foi possível realizar com êxito o exercício e manobra operativo-estratégico “Vale do Loge”, demonstrando as entidades convidadas nacionais e estrangeiras a crescente mestria militar das FAA.
O cenário político militar e operativo foi concebido em situação de ficção, onde os comandantes tomaram as decisões adequadas e ponderadas, os estados-maiores garantiram a reacção oportuna contra as prováveis acções do inimigo simulado, enquanto as tropas cumpriam com êxito as missões distribuídas.
Sobre o exercício FELINO 2019, o general Disciplina disse que Angola vai participar com as forças das Comunidades dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), representando maior grosso dos três ramos das tropas angolanas (Exercito, Marinha e Força Aérea).
O exercício Felino 2019 vai decorrer na localidade angolana do Cabo Ledo, província de Luanda, com o tema “Das operações de apoio à paz e ajuda humanitária”. Os exercícios constituem um mecanismo de inter-operacionalidade das forças armadas dos países de Língua Portuguesa.
Compõem este exercício as forças armadas de Angola, do Brasil, de Cabo Verde, da Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, de Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
É a segunda vez que Angola recebe o “Exercício Felino”, depois de já ter acolhido em Setembro de 2010. A última edição (17ª) foi realizada em 2017, na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), em Resende, no Estado brasileiro do Rio de Janeiro.
Educação patriótica dos militares do MPLA
Enquanto chefe do Estado-Maior General adjunto das FAA, já em 2015 o general Egídio de Sousa Santos “Disciplina” explicava tudo de forma patriótica.
Ou seja, disse-o na altura, devido à sua posição geoestratégica e às suas potencialidades em recursos naturais, Angola tem sido alvo de várias tentativas de desestabilização, nomeadamente com recurso “à desobediência e a desacatos às autoridades legalmente instituídas”.
O general fez estas afirmações quando discursava na abertura do 6º curso de estratégia e arte destinado a oficiais generais e almirantes das Forças Armadas Angolanas.
Será então de concluir, ou não fosse o general Egídio de Sousa Santos “Disciplina” responsável pela “Educação Patriótica”, que os jovens activistas e todos aqueles que, internamente, teimam em pensar pela própria cabeça, se inserem nessa monumental e poderosa tentativa de desestabilização.
De acordo com o oficial general, neste “sentido deve-se prestar maior vigilância a estes cenários para não permitir que a paz duramente conquistada à custa do suor e sangue de muitos filhos da pátria seja perturbada”.
Está bem visto. Provavelmente todos os que não são do MPLA estavam, estão e estarão, a preparar um golpe de Estado e a preparar-se para a guerra, pondo a paz, “duramente conquistada à custa do suor e sangue de muitos filhos da pátria”, em causa. É isso, não é senhor general?
O curso de “de estratégia e arte” enquadra-se nas perspectivas e estratégias de formação definidas pelo comando superior das Forças Armadas Angolanas e materializadas pelo Estado-Maior General por intermédio dos seus órgãos de ensino militar.
“Esta formação marca uma etapa importante no âmbito da implementação da directiva do Presidente da República e Comandante-em-Chefe das Forças Armadas Angolanas, José Eduardo dos Santos, que prevê um conjunto de tarefas concretas na perspectiva «Angola 2020», nas quais se destaca a formação contínua dos quadros a todos os níveis como premissa fundamental para a modernização da instituição castrense”, explicou na altura o general “Disciplina”.
“Todavia, o sucesso de qualquer formação depende em última instância do engajamento efectivo que cada discente tiver no estudo das matérias que forem ministradas, além do factor coabitação entre docentes, discentes, conteúdo, métodos de ensino e aprendizagem”, afirmou o general Egídio de Sousa Santos “Disciplina”, justificando a cada vez maior necessidade de reeducar os angolanos.
Egídio de Sousa Santos “Disciplina” afirmou estar convicto de que as Forças Armadas Angolanas “estão no bom caminho no concernente à formação, produzindo valores que possam enobrecer as estruturas de ensino militar, a instituição castrense, e o país em geral no contexto interno e externo em última instância, o soldado que constitui a unidade de um todo que são as Forças Armadas Angolanas”. E se estavam no bom caminho com Eduardo dos Santos, melhor estarão com João Lourenço…
Uma guerra daria jeito?
Relembre-se, neste âmbito, que o desenvolvimento de uma parceria estratégica no domínio militar, entre Angola e a Bielorrússia, foi no dia 8 de Agosto de 2018 analisada em Luanda por delegações dos dois países. Em Outubro de 2013 foi anunciado que Angola tinha comprado 18 aparelhos Su-30K de fabrico russo que tinham estado ao serviço da Força Aérea da Índia…
Angola fez-se representar neste encontro pelo secretário de Estado para os Recursos Materiais e Infra-Estruturas, tenente-general Afonso Carlos Neto, e a Bielorrússia por uma delegação chefiada pelo Presidente do Comité Estatal militar-industrial, major-general Oleg Dvigalev.
De acordo com o chefe da missão bielorrussa, foram abordadas questões como a criação de linhas de montagem, reparação e manutenção de materiais militares e do sistema de defesa anti-aérea.
O major-general Oleg Dvigalev admitiu a possibilidade de reaproveitamento do material de origem russa pelo potencial que ainda apresenta, levando em conta os esforços de modernização das Forças Armadas Angolanas.
Em Março de 2017, o Presidente da República, João Lourenço, ainda na qualidade de ministro da Defesa Nacional, debateu com uma delegação da Bielorrússia a possibilidade de assinatura de acordo inter-governamental na área técnico-militar.
Na altura, admitia-se a possibilidade de o acordo se estender a projectos civis, nomeadamente a produção de tractores e viaturas e consolidar as relações de cooperação existentes nos domínios da agricultura e da indústria.
O país do Leste europeu é uma referência mundial na produção de equipamentos pesados, queijo e óleo alimentar.
Financiamentos garantidos, ou quase
Recorde-se que, em Novembro de 2017, vários projectos de investimento, acima de 10 milhões de dólares (8,5 milhões de euros) foram recebidos pelo Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA), para acesso à linha de crédito disponibilizada pelo Banco de Desenvolvimento da Bielorrússia.
A informação foi então avançada, em Luanda, pelo presidente do Conselho de Administração do BDA, Abraão Gourgel, no final do encontro, do qual fez parte, além do ministro das Finanças angolano, Archer Mangueira, e do ministro da Indústria da Bielorrússia, Vitaly Vovk.
O BDA e o Banco de Desenvolvimento da Bielorrússia têm um acordo de cooperação, assinado em Junho de 2017, que visa o financiamento de projectos privados no sector produtivo, que se encontrava numa fase de operacionalização, antes de se dar início ao processo de financiamento.
Abraão Gourgel referiu que os investidores angolanos deviam reunir as condições exigidas pela linha de crédito, em termos de idoneidade, capacidade técnica e de gestão, para serem aprovados pelo Banco de Desenvolvimento da Bielorrússia.
“No fundo tem que passar por uma análise de risco, que é feita pelo BDA, enquanto gestor em nome do Banco de Desenvolvimento da Bielorrússia”, explicou Abraão Gourgel, citado na altura pelo Jornal de Angola.
Segundo o administrador, serão priorizados os projectos que promovam a exportação de produtos ou que resultem na substituição de importações, nomeadamente na agricultura, indústria e geologia e minas.
Aquele dirigente salientou ainda que o governante bielorrusso manifestou interesse em cooperar em áreas como o petróleo, através da refinação de óleo bruto, geologia e minas e agricultura.
Por sua vez, Vitaly Vovk frisou que o montante da linha de crédito dependia dos projectos apresentados, salientando que a Bielorrússia está focada, não só, num processo de compra e venda, como de montagem de fábricas, nomeadamente a de tractores, bem como na formação de quadros.
O governante bielorrusso disse que o encontro marcou o início de uma cooperação mais profunda com as autoridades angolanas, garantindo certeza de que “este será o primeiro de muitos encontros”.
E então os Su-30K…
Em Outubro de 2013 foi anunciado que Angola tinha comprado 18 aparelhos Su-30K de fabrico russo que tinham estado ao serviço da Força Aérea da Índia.
São aviões de guerra fabricados do final da década de noventa, tendo sido entregues pelos russos à Força Aérea da Índia entre 1998 e 1999, sabe Deus em que estado, e foram retirados de serviço em 2006, por opção estratégica das forças armadas indianas. Quer dizer, essas aeronaves tinham atingido o seu nível terminal de caducidade.
Anos mais tarde, em 2011, os Su-30K regressaram a Baranovichi, na Bielorrússia, onde ficaram em instalações fabris da Irkut Corporation para serem modificadas e modernizados com sistemas de navegação e armamento bastante evoluído em termos tecnológicos.
A compra pelo Estado angolano foi concluída através da empresa exportadora nacional russa Rosoboron-export, a qual assegurou que enviaria numa primeira fase 12 caças e mais tarde os seis restantes, só que, no mês de Fevereiro de 2014, a Irkut Corportation, fabricante dos Sukhoi, esclareceu que nesse negócio estavam apenas incluídos 12 caças Sukhoi Su-30K…. E os outros seis, então? Precisavam de tratamento especial que a sua velhice exige ou teriam voado sem avisar!? Para onde?
Claro que não se sabe ao certo, mas, segundo fontes estatais a primeira remessa desses caças chegaria a Luanda no final de 2015. Se não caíssem pelo caminho.
Quanto ao preço dessa fornada de sucata, segundo a mesma fonte, o governo de Luanda concordou pagar, a 16 de Outubro de 2013, a módica quantia de 1 bilião de dólares pelas 18 aeronaves, o que nos impõe realçar o propósito do governo do então presidente Eduardo dos Santos de priorizar a defesa nacional – embora só Deus saiba quem é o nosso actual inimigo -, em detrimento de necessidades básicas, postas de lado neste caso, o que contribuiu para relegar Angola para os mais baixos índices de desenvolvimento humano do mundo, para os mais baixos patamares de facilidade de negócios, para o underground fétido dos índices da mortalidade infantil e para os píncaros da corrupção activa e passiva da elite.